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Sonho padrão Ceagesp

Um especial CanaOnline

Janeiro de 2018

Texto e fotos: Luciana Paiva

Criação de arte: Leonardo Ruiz

PRODUTOS AGRÍCOLAS COM QUALIDADE QUE ATENDEM AS EXIGÊNCIAS DA COMPANHIA DE ENTREPOSTOS E ARMAZÉNS GERAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO PASSARAM A SER A META DE MUITOS PRODUTORES. ESTÍMULO PARA A ADOÇÃO DE BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS

O calor do sol a pino aquece o sonho da goiabinha caipira de um dia seguir em grande estilo para a capital paulista. A goiabinha carrega na casca a responsabilidade de manter uma história de conquistas, iniciada na década de 1970, pelo produtor de frutas Valdenir Rossi, de Vista Alegre do Alto, SP, um dos pioneiros na introdução da goiaba entre os produtos comercializados pela Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).

Naquele tempo, a goiaba não era muito popular como fruta de mesa, mas o “seu” Valdenir foi conquistando a apreciação dos clientes e consumidores pela qualidade de suas frutas. Mas o produtor queria mais, seu desejo era ampliar o mercado, era fornecer goiabas em larga escala. Em sua visão, o caminho para alcançar seu objetivo seria comercializar seus produtos na Ceagesp.

Criada em 31 de maio de 1969, a partir da fusão de duas companhias mantidas pelo Governo do Estado de São Paulo: o Ceasa (Centro Estadual de Abastecimento) e a Cagesp (Companhia de Armazéns Gerais do Estado de São Paulo), a Ceagesp, que é vinculada ao

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, tem duas unidades de negócios distintas, porém complementares: a armazenagem (18 unidades) e a entrepostagem (13 unidades), localizadas em regiões estratégicas do Estado de São Paulo.

 

Mais do que um centro de comercialização, a Ceagesp passou a ser sinônimo de produtos agrícolas de qualidade, é que a empresa desenvolveu uma listagem de classificação de cada um dos produtos comercializados em seus entrepostos. A elaboração desse material é feita pela Seção do Controle de Qualidade Hortigranjeira (SECQH), responsável por estabelecer os padrões mínimos de qualidade e tamanho para as frutas e hortaliças comercializados na Ceagesp. Profissionais da empresa explicam que a vantagem dessa padronização, entre outros pontos, é garantir que produtos com defeitos não sejam aceitos no recebimento pelos permissionários.

No caso da goiaba, faz parte do Padrão de Qualidade da Ceagesp exigências como: cor da casca, diâmetro da fruta, ausência de defeitos, de podridão, de alterações fisiológicas, amassados e cicatrizes. Até o umbigo malformado é motivo para o não recebimento da fruta.

O_ETSP_movimenta_cerca_283_mil_toneladas

A Ceagesp mantém a maior rede pública de armazéns, silos (grandes depósitos, em forma de cilindro, para guardar produtos agrícolas) e graneleiros (locais que recebem ou abrigam mercadorias a granel) do estado paulista. Conta também com o Entreposto Terminal São Paulo (ETSP), a maior central de abastecimento de frutas, legumes, verduras, flores, pescados e diversos (alho, batata, cebola, coco seco e ovos) da América Latina e o terceiro do mundo.

A_alta_qualidade_dos_frutos_começa_no_ca

Situado na zona oeste da cidade de São Paulo, o ETSP é considerado a grande vitrine do agro na capital paulista. Inaugurado em 1966, o entreposto atrai feirantes, compradores de supermercados, peixarias, restaurantes, sacolões, consumidores finais e até turistas do mundo todo, interessados em produtos de qualidade e na grande diversidade de sabores, cores e aromas que transferem para a cidade o que é produzido no campo.

A Val produz 24 mil toneladas.jpg

O ETSP movimenta cerca 283 mil toneladas de produtos por mês (3,4 milhões de toneladas/ano), esse volume comercializado representa 80,1% do total da rede Ceagesp. A área total do terreno é de 700 mil m² e a área construída de 271 mil m². Nele circulam diariamente aproximadamente 50 mil pessoas e 12 mil veículos. Abriga mais de 2800 permissionários (pessoa física ou jurídica que tem permissão para comercializar dentro da Companhia) que comercializam os mais variados produtos, vindos de 1500 municípios de 22 estados brasileiros e também de outros 19 países. Os principais produtos comercializados são laranja, tomate, batata, mamão e maçã.

O_Grupo_Val_é_o_maior_fornecedor_de_goia

Entre os 2800 permissionários está o “seu” Valdenir Rossi. O produtor de goiaba de Vista Alegre do Alto estava certo ao investir em seu objetivo de “ser parte da Ceagesp”. Ao unir empreendedorismo, gestão eficiente, empenho em produzir frutos com qualidade e as possibilidades abertas por comercializar

seus produtos na Ceagesp, “seu” Valdenir transformou a pequena produção de goiaba no Grupo Val, não só a maior fornecedora de goiaba do país, mas uma processadora de mais de 40 produtos, como sucos, doces, atomatados, conservas e temperos.

 

A goiaba é o carro-chefe do Grupo, mas nas terras da Val ainda são produzidas carambola, caju e manga. A empresa também comercializa na Ceagesp atemoia e graviola, produzida por terceiros. Roberto Vendramini Rossi, diretor do Grupo, informa que a área agrícola da Val produz 24 mil toneladas/ano de goiaba, desse volume, 11 mil toneladas/ano são destinadas ao mercado de mesa e as outras 13 mil toneladas seguem para o processamento industrial. Também são adquiridos de terceiros mais 3,6 mil ton./ano de goiaba para o mercado de mesa.

Por ano, o Grupo Val entrega no ETSP 14,6 mil toneladas de goiaba, 1,5 mil de manga, 2 mil de carambola  e 800 toneladas de caju.

Indústria_da_Val,_em_Vista_Alegre_do_Alt

Roberto salienta que a Val preza muito o frescor das frutas, o emprego de embalagens padronizadas de boa aparência, frutas isentas de resíduos e garantia de maior vida de prateleira. O executivo salienta que a obtenção de produtos com qualidade começa na lavoura. O parque agrícola da Val conta com 820 hectares (ha), dos quais 650 ha são destinados para a produção de goiabas, 120 ha para mangas e 50 ha para caju e carambola. A produção é irrigada e recebe poda (desbaste de ramos e frutas) nas épocas adequadas. São empregados manejo integrado de pragas e doenças, manejo da fertilidade e conservação do solo e técnicas de fruticultura em geral.

Os_pomares_são_irrigados,_o_que_contribu
As_frutas_passam_por_um_moderno_sistema_

A colheita é manual. A Val agrícola emprega 150 funcionários fixos, o que gera três funcionários ha/ano. Após a colheita, as frutas são transportadas até o packing house onde são imersas em um tanque com água clorada, classificadas por defeito, cor e peso e acondicionadas em caixas de diversos tipos. Depois entram em uma sala climatizada, onde é realizada a separação dos tipos de embalagens e variedades e paletizadas. E, por fim, os paletes seguem para as docas de carregamento nos caminhões refrigerados que serão distribuídos para os pontos de vendas.

Segundo Roberto, o mercado de fruta in natura de goiaba vem sofrendo muita competividade com a própria fruta e outras frutas de época, o que tem exigido muito profissionalismo no ramo para gerir o negócio. “A Ceagesp é muito importante para nós, é o canal de distribuição onde todas as redes se encontram (supermercados, hortifrútis, etc), onde todo o tipo de negócio acontece, facilitando a distribuição em um único ponto de venda, para o Brasil todo de norte a sul. Também é importante

Além dessas práticas agrícolas as frutas passam por um moderno sistema de classificação no packing house (casa de empacotamento) onde são separadas por defeitos, cor e peso e após o acondicionamento nas embalagens seguem para a cadeia de frio até os pontos de venda. “Com o planejamento das práticas de produção, as frutas são colhidas e distribuídas diariamente o ano todo, ou seja, conseguimos manter nossos clientes o ano todo com frutas frescas”, diz o diretor da Val.

Goiabas da Val em box da empresa no ETSP

para o consumidor, pois possibilita a acessibilidade a frutas que não são produzidas na sua localidade”, observa.

Mesmo com todas as vantagens oferecidas pela Ceagesp, Roberto acredita que ainda há o que ser aperfeiçoado. “Como todo o negócio podemos melhorar em vários aspectos como: vendas e acompanhamentos on-line, melhoria na infraestrutura da Ceagesp, novos cultivares para melhor qualidade para o consumidor.”

Jocelino teve a oportunidade de conhecer a produção das uvas chilenas

Isso inclui, conhecer o método de produção das frutas, por isso, nos contou todo satisfeito de que já foi convidado por empresas produtoras estrangeiras a visitar lavouras na Nova Zelândia, país produtor de frutos como o Kiwi, e no Chile, que nos abastece com uvas de mesa, ameixa, pêssegos, nectarinas e outras. Ficou encantado, principalmente pelos vinhedos chilenos que são irrigados com a água proveniente do degelo da Cordilheira do Andes. “Lá quase não chove, isso ajuda a uva ficar mais doce. Uma delícia.”

Quem também transita pelo mundo das frutas é o jovem Wallace Solano Rodrigues, que trabalha faz quatro anos no Entreposto Terminal São Paulo (ETSP), entrou como menor aprendiz. Conta que não se cansa de se impressionar com o ‘universo Ceagesp’, com seu ritmo frenético, seus muitos corredores labirínticos, a imensidão de gente e a profusão de veículos. “Descobri uma cidade dentro da cidade de São Paulo. Uma cidade que também acorda cedo (4 da manhã), que tem um monte de gente de vários lugares do estado, do país, do mundo, e que tem até congestionamento em seus corredores, congestionamento de carregadores”, observa.

Wallace também está aprendendo um novo idioma, a língua falada pelos ‘habitantes da Ceagesp’. Isso mesmo, por entre os armazéns, silos e corredores corre um dialeto, onde a palavra boneca significa uma classe ou tamanho de batata; buquê é um cacho de bananas com 7 a 9 unidades; e que galinha se refere ao comprador que percorre os pavilhões e compra pouca quantidade de cada produto.

Durante décadas, uma das peculiaridades da rodovia Anhanguera nas proximidades com a cidade de Jundiaí, no interior paulista, era as bancas de frutas instaladas às margens da pista. Os viajantes se deliciavam com a uva, figo e pêssegos produzidos na região.

Uma dessas pequenas bancas deu origem, há 60 anos, ao Grupo Benassi, um dos maiores comercializadores de frutas, legumes e verduras do país e da América Latina – importando e exportando produtos para a Europa, África e América. É na Benassi que trabalha, há nove anos, o cearense Jocelino Moreira, que confessa ter descoberto o mundo das frutas. “Eu era boia-fria no Ceará, nunca podia imaginar que existia tantas variedades de frutas no mundo. Trabalhando aqui, tive a oportunidade de fazer esse descobrimento e adorei, não só conhecer e saborear as frutas, mas principalmente apresenta-las às pessoas”, diz.

Jocelino atendeu a equipe da CanaOnline no box da Benassi localizado no ETSP, e, pelo jeito que explicou os diferenciais das frutas, ficou claro que se tornou um apaixonado pelo assunto. Falou sobre as qualidades da maçã orgânica produzida na Alemanha, o sabor diferenciado das frutas nacionais e de como as frutas exóticas como mangostin e pitaia têm chamado a atenção do consumidor.

Mas Jocelino sempre quer saber mais sobre os produtos, para informar corretamente seus clientes e, até para conferir se a forma de seleção atende aos padrões da Ceagesp.

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A laranja é a fruta mais comercializada na Ceagesp

* A banana, a fruta mais consumida no Brasil, ocupa apenas 11ª colocação nesse ranking de frutas mais vendidas. Isso porque 60% da produção é comercializada fora da Ceagesp, porque a banana tem um volume muito grande, cada caixa tem 21 quilos, então, por causa da logística, boa parte da produção não passa pela Ceagesp

De_acordo_com_a_Ceagesp,_o_Cinturão_Verd

As verduras e legumes também enchem o ETSP de cores e aromas, mas diferentemente das frutas que chegam de várias cidades, estados e países, mais de 80% das hortaliças que abastecem o entreposto são produzidas no Cinturão Verde Paulista, que é dividido em duas grandes áreas - leste e oeste - tendo a capital do estado como o centro. Entre os municípios que compõem a região leste estão Mogi das Cruzes, Santa Isabel e Suzano, nela estão mais de 4 mil pequenos produtores rurais. Na região oeste, o Cinturão Verde é

composto por cidades como Ibiúna, Itapetininga, Piedade do Sul e Sorocaba e conta com aproximadamente 3 mil pequenas propriedades rurais.

De acordo com a Ceagesp, o Cinturão Verde Paulista responde por 25% da produção nacional de verduras e por 90% das verduras e 40% dos legumes consumidos na capital paulista. A proximidade das áreas de produção agrícola com o mercado consumidor favorece o transporte, reduz as perdas, o preço e também a pegada ecológica (menos transporte significa menos poluição do ar).

Entre os fornecedores de hortaliças produzidas no Cinturão Verde Paulista estão Roberto de Almeida e Francisco Dantas, de Mogi das Cruzes, que há 10 anos comercializam na Ceagesp. A lida não é fácil e começa cedo, às 4 da manhã já estão se dirigindo para o ETSP. Na roça, trabalham para conseguir produtos com qualidade para atender as qualificações do entreposto, sabem que isso é fundamental para a comercialização e para maior valorização do produto. Eles também estão de olho nas tendências de mercado, para reduzir perdas e aumentar o ganho, passaram a reduzir a produção de folhosas e aumentaram o plantio de legumes como a brócolis ninja, que oferece maior valor agregado.

Pequenos produtores, eles reclamam da falta de uma política agrícola e agrária que dê mais segurança e estabilidade para que o produtor não sofra tantas perdas e fique tão à mercê dessa gangorra entre oferta e demanda.

Roberto_de_Almeida_e_Francisco_Dantas,_d

“Quando o tempo ajuda e a produção aumenta, o preço despenca, tem vez que não compensa colher e transportar para cá. Quando a produção cai, o preço aumenta, mas aí o volume é pouco e quando dividimos com o gasto, o custo não cobre. Vida de quem planta é dura, não é alface."

A Ceagesp acompanhou a evolução dos tempos e as necessidades dos consumidores, por isso, iniciou, em 1979, o processo de descentralização,

abrindo entrepostos no interior

paulista, a primeira central fora

da capital foi a de São José do Rio

Preto. Nos quatro anos seguintes,

foram construídas mais 10

centrais atacadistas. Criadas

para estimular a produção e

atender a demanda de

consumo das regiões produtoras

do Estado, elas passaram a ser polos

de distribuição de alimentos.

Também em 1979, a Ceagesp iniciou o comércio varejista de hortifrutigranjeiros, através dos chamados varejões. São oferecidos para o consumidor final frutas, legumes, verduras, pescado, ovos, aves, cereais e outros produtos típicos

das feiras livres, como pastéis, salgados, pães, bolos e lanches.

O primeiro varejão começou suas

atividades dentro do ETSP, em

setembro de 1979. Inicialmente,

funcionava apenas aos finais

de semana. Em dezembro de

1994, entrou em operação

o varejão noturno, para

oferecer mais uma

alternativa de compra ao

consumidor.

 

Hoje, os varejões da Ceagesp são realizados três vezes por semana (quarta-feira, sábado e domingo) e movimentam mais de 250 toneladas de produtos por mês. Semelhantes às feiras-livres, mas com garantia de qualidade e controle de preços, eles ocorrem no ETSP e na unidade de Sorocaba.

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Feira de Flores no ETSP - Semanalmente, são comercializadas entre 800 e 1 mil toneladas de flores e plantas

Outra atração que ganhou força na Ceagesp é a Feira de Flores, realizada no Pavilhão Mercado Livre do Produtor (MLP), no ETSP, é a maior do gênero no país, reúne cerca de mil produtores de flores, plantas, grama e mudas. Conta ainda com uma área especial, reservada para acessórios e artesanato. Semanalmente, são comercializadas entre 800 e 1 mil toneladas de flores e plantas. Em cada um dos dias em que é realizada, circulam em média de 5 mil a 8 mil pessoas no ETSP.

A Feira de Flores acontece as 3ª e 6ª feiras das 0h às 9h30 (da 2ª feira para 3ª feira e de 5ª para 6ª feira – inclusive aos feriados) no Pavilhão Mercado Livre do Produtor. O ETSP conta também com outra Feira de Flores, que ocorre em dias diferentes, 2ª e 5ª feira das 2h às 14h* (inclusive aos feriados) na Praça da Batata. No Varejão de domingo no ETSP também há venda de flores.

A Feira de Flores também ocorre nos entrepostos da Ceagesp das cidades de Araçatuba, Bauru. Guaratinguetá, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, São José dos Campos, São José do Rio Preto e Sorocaba.

Os legumes, as verduras, as frutas, as flores são feitos no campo, ou seja, é a utilização de sementes tratadas, do manejo adequado, de boas práticas agrícolas que resultará em produtos de qualidade. Após colhidos, não há nada que se possa fazer para melhorar a qualidade, mas para preservar sua qualidade, frescor, boa aparência, é necessário tomar uma série de cuidados e realizar uma corrida contra o tempo para entrega-los o mais rapidamente ao seu destino final. O manuseio inadequado é a principal causa de perda de qualidade, de frescor e de valor das frutas e hortaliças frescas.

Os técnicos do Centro de Qualidade Hortigranjeira (CQH) da Ceagesp desenvolveram o Programa Manuseio Mínimo, que engloba material digital, treinamentos e material impresso, como cartilha com 14 regras para a manipulação das frutas e hortaliças frescas nas gôndolas.

Como a maior parte das frutas e hortaliças frescas comercializadas na Ceagesp tem como destino os supermercados, uma parceria entre a Ceagesp e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Empraba) desdobrou o Programa Manuseio Mínimo, que passou a oferecer dicas ao setor varejista de como manter a qualidade e diminuir perdas nos supermercados e estimular o consumo de frutas e hortaliças pelos consumidores.

A proposta tem como objetivo orientar profissionais de supermercados e redes varejistas – dentre eles, repositores – a expor as frutas e hortaliças frescas da melhor forma, estabelecendo cuidados no manuseio a fim de evitar-se perdas devido ferimentos ou contaminação nos alimentos.

Uma das ferramentas que protege esses produtos agrícolas é a embalagem, que ainda serve como instrumento de identificação, movimentação e exposição de frutas e hortaliças frescas. Bem rotulada, ela é o primeiro passo na construção da marca do produtor. Desse modo, garante o sabor, a aparência e a segurança alimentar do produto.

E a Ceagesp criou, em 2012, o Programa de Rotulagem, que tem caráter permanente e visa auxiliar produtores e permissionários dos entrepostos a garantir a segurança dos alimentos e modernizar a comercialização de frutas e hortaliças frescas. A presença do rótulo é importante para identificar o produto, além de oferecer informações sobre quantidade, origem e responsável pela produção.

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Na Ceagesp não tem frutos só da Terra, tem do mar também

“Olha o peixe!”. Sim, tem pescados no ETSP. A atividade representa apenas cerca de 1% dos produtos comercializados na Ceagesp – as frutas são responsáveis por aproximadamente 53% do volume total comercializado, os legumes 26%, as verduras 7%, os produtos diversos 11%, flores 2% – pode ser pouco, mas é a segunda maior feira atacadista de pescado da América Latina. A gestão do Pátio do Pescado, que tem 27 mil m², está a cargo do Frigorífico de São Paulo (FRISP). Diariamente são comercializadas, em média, 200 toneladas de peixes de 97 espécies – os de água salgada representam 90%. Sardinha, pescada, corvina e tilápia figuram na listagem dos mais procurados. As importações são cerca de 6% do volume vendido, com destaque para o salmão, proveniente do Chile.

O Pátio do Pescado reúne 81 permissionários e os principais fornecedores são dos estados de Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. Fundado em 1969, trabalham nele cerca de 800 pessoas entre permissionários, funcionários e carregadores autônomos. Horário de comercialização: 3ª a sábado das 2h às 6h.

O período de maior movimentação do setor é a Semana Santa, quando o volume comercializado praticamente triplica. Justamente nos dias que antecedem a Páscoa é que ocorre, anualmente, a Santa Feira do Peixe. Na ocasião, os consumidores finais têm a oportunidade de comprar, em horários diferenciados, os pescados que são vendidos no atacado.

As estimativas de perdas no ETSP são da ordem de 100 toneladas/dia de alimentos que ocorrem como consequência do comprometimento da qualidade dos produtos, devido à manipulação inadequada no transporte e comercialização. Isso representa 1% do volume comercializado no entreposto.

Grande parte dos produtos descartados têm condições para o consumo humano, e para aproveitá-los a Coordenadoria de Sustentabilidade (CODSU), criada em 2003 no Entreposto Terminal São Paulo (ETSP) desenvolveu o programa Banco de Alimentos do Ceagesp, com o objetivo de coletar, selecionar e distribuir alimentos oferecidos por 

Banco de Alimentos do Ceagesp no ETSP.JP

produtores e permissionários para entidades sociais do Estado de São Paulo.

Pedro_de_Alcântara_Couto_Junior,_gestor_

Pedro de Alcântara Couto Junior, gestor do Programa, conta que nos últimos anos, foram distribuídas em média 166 toneladas de alimentos por mês para mais de 160 instituições cadastradas, além de bancos localizados em outros municípios. Os produtos que são doados pelos permissionários passam por uma triagem, onde, sob supervisão de nutricionistas, são selecionados os que têm condições de consumo.

O Banco Ceagesp de Alimentos produz informativos mensais sobre nutrição e segurança alimentar e nutricional, bem como receitas que incentivam o aproveitamento integral dos alimentos,

principalmente das partes não convencionais, como cascas, sementes e talos. Promove constantemente campanhas de incentivo ao consumo de frutas, legumes e verduras. É responsável por ações educativas à comunidade e estabelece parcerias de estágio com universidades para a realização de suas atividades. E produz alimentos desidratados, a partir das doações in natura recebidas. “Também realizamos campanhas para estimular o aumento de doação de produtos por parte dos permissionários, ainda muitos podem participar”, observa Pedro.

Por meio de um convênio firmado com o Sindicato dos Carregadores Autônomos (Sindicar), 505 carregadores cadastrados, voluntariamente, retiram as doações dos permissionários e as levam ao Banco Ceagesp de Alimentos. Mensalmente, o serviço distribui cestas básicas aos carregadores que mais contribuem. Atualmente, o projeto está presente em 11 entrepostos do interior: Araçatuba, Araraquara, Bauru, Franca, Marília, Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, São José dos Campos e Sorocaba.

doaçao_de_cebolas_ao_Banco_de_Alimentos.

Os descartes do Banco Ceagesp de Alimentos impróprios para o consumo são transformados em adubo orgânico por meio de compostagem. A Ceagesp promove ainda a reciclagem de palha, madeira, ferro e papelão.

Os corredores estreitos formam congestio

As frutas, flores, verduras e legumes são lindas, primam pela qualidade, mas o Entreposto Terminal São Paulo (ETSP) é feio, apertado e ficou ultrapassado. Suas condições tornaram-se precárias, em termos de infraestrutura interna, trânsito e logística. Sem os investimentos necessários à sua modernização, tornou-se obsoleto. A implantação de um novo entreposto hortifrutigranjeiro e de pescados em São Paulo, em substituição à antiga Ceagesp, passou a ser uma reivindicação constante por parte dos permissionários e usuários.

Em 6 de outubro de 2017, o Governo Paulista publicou Edital de Chamamento Público para apresentação de propostas, pela iniciativa privada, para a construção e operação de um novo Entreposto de Abastecimento de Alimentos na Região Metropolitana de São Paulo.  

 

De acordo com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por tratar-se de projeto de grande envergadura e importância, o Estado tomará todos os cuidados para que o novo entreposto seja resultado de ampla discussão com todos os interessados e operadores.

 

A proposta é que o novo entreposto deva ser o maior do mundo, atendendo com muito mais inteligência, conforto e 

melhor nível de serviços, as mais de 50 mil pessoas (e os 10 mil caminhões) que entram e saem da Ceagesp todos os dias e movimentam quase de 4 milhões de toneladas de alimentos por ano, totalizando R$ 10 bilhões em negócios.

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O novo entreposto está sendo concebido para abranger todo o movimento da atual zona cerealista da Capital, permitindo a reurbanização radical de áreas importantes de São Paulo, com a melhoria do trânsito, da paisagem, do saneamento, do meio ambiente e, por consequência, possibilitará uma cidade mais limpa, agradável e que proporcione melhor qualidade de vida para a população.

O_Entreposto_Terminal_São_Paulo_(ETSP)_é

Em março de 2018, o Governo apresentou quatro projetos que atenderam ao chamamento público, feito em outubro de 2017. O projeto escolhido deveria ser anunciado, inicialmente, no dia 11 de maio, mas o prazo foi prorrogado por mais 60 dias para finalizar a preparação dos documentos, as aprovações competentes e afins. E até o momento o vencedor ainda não foi anunciado.


Com o novo Entreposto na capital paulista, não só a goiabinha caipira, mas todas as frutas, legumes e verduras que mantém o padrão Ceagesp, terão o melhor e maior palco do mundo para darem seu show. Porém, essa demora para que se torne realidade pode estragar as frutas.

Frutas nativas do Brasil atraem a atenção no ETSP

Em seu dia a dia, o brasileiro passou a degustar mais frutas de origem estrangeira como ameixas, peras e maçãs, do que nossas frutas nativas. Houve um tempo, em que abiu, cupuaçu, graviola, jenipapo, sapoti, maracujá roxo, guabiroba faziam parte da vegetação que cobria o país, muitas delas, podiam ser encontradas nos quintais e pomares. Com a urbanização, praticamente desapareceram, a ponto de passarem a ser tratadas como exóticas, estranhas, quase extintas.

Ao caminhar pelo ETSP encontramos o box de Valdemar Makoto Aoki (Frutícola Trindade), famoso por oferecer frutas exóticas, entre elas as brasileiras, são 50 tipos oriundas de norte a sul do Brasil. Até o interior de São Paulo fornece relíquias como bacupari, jatobá e uvaia. O box é um dos mais visitados, é que o mercado de frutas exóticas está em ascensão, no ano passado, a Frutícola Trindade registrou aumento de 30% nas vendas.

Mas relíquia mesmo é o “seu” Valdemar, que destoa totalmente daquele ambiente barulhento e acelerado da Ceagesp. Enquanto fotografávamos e nos surpreendíamos com os formatos, cores e diversidade, ele chegou de mansinho e calmamente foi nos apresentando as frutas nativas brasileiras, salientando o sabor potente, ácido e o perfume característico das espécies tropicais. “Seu” Valdemar está há mais de 35 anos nesse negócio, sabe tudo, e tem a maior paciência em transmitir o seu conhecimento, fala tão gostoso que até parece que estamos degustando cada uma dessas frutas.

“Com o planejamento das práticas de produção, as frutas são colhidas e distribuídas diariamente o ano todo, ou seja, conseguimos manter nossos clientes o ano todo com frutas fresca.”

Roberto Vendramini Rossi

Diretor do Grupo VAL

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