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Setor apresenta baixa renovação dos canaviais e alta presença de variedades antigas

Setor apresenta baixa renovação dos canaviais e alta presença de variedades antigas

Baixa taxa de renovação, adoção de materiais antigos e alto índice de concentração varietal são obstáculos para a alta produtividade

Leonardo Ruiz

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Canaviais estão velhos e com falhas

Os canaviais brasileiros nunca estiveram tão velhos. Dados dos principais institutos de melhoramento genético do Brasil apontam que o estágio médio de corte nos estados do Centro-Sul este ano é o maior desde 1986, atingindo uma média de 3,9 anos. O ideal seria que esse valor figurasse, no máximo, em 3,5. O último ano abaixo desse número foi em 2015.

 

Esse envelhecimento dos canaviais é fruto de um setor ainda em crise, cujas dificuldades financeiras impedem o aumento das taxas anuais de plantio, processo entre os mais caros de todo o sistema produtivo da cana-de-açúcar. Por conta disso, raramente mais do que 12% das áreas foram reformadas pelas usinas nos últimos anos, valor muito aquém do ideal.

 

Com um número cada vez maior de unidades encerrando suas moagens neste final de ano, as atenções começam a ser voltadas para o próximo plantio. O desafio será tentar reverter esse cenário, já que existe uma relação direta entre o estágio médio de corte com o aumento de produtividade. Canaviais mais velhos implicam diretamente em menos Toneladas de Cana por Hectare (TCH). Pesquisas apontam que, a cada rebrota da soqueira, o potencial produtivo poderá ser até 8.5 TCH inferior.

O coordenador do Censo Varietal do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Rubens Leite do Canto Braga Jr., afirma que o segmento vem, constantemente, atingindo recordes negativos de renovação. Segundo ele, nas últimas safras plantou-se menos do que o necessário. O resultado é que os primeiros cortes estão abaixo da média histórica e os mais avançados, acima. “Esse fato impede a manutenção da produtividade em altos patamares. Numa média de 10 safras, quando comparamos do primeiro para o quinto corte, há uma diferença de 27 TCH. Isso mostra o quanto o plantio influência nos ganhos, ou perdas, de produção.”

Maior Censo Varietal de Cana mostra que a RB867515 se mantém como a mais plantada e cultivada no Centro-Sul. Porém, setor deve se atentar a atualização varietal caso deseje incremento de produtividade

É fato que o setor canavieiro nacional ainda utiliza variedades bastante antigas. Das décadas de 1980 e 1990. A RB867515 é uma prova viva. Sua primeira semeadura foi há mais de 30 anos, na extinta Estação Experimental de Ponte Nova, MG, ainda sob o controle do IAA-Planalsucar. Embora “velha”, esse material ainda arrasta multidões por onde passa e se mantém como líder - tanto como a mais cultivada, como a mais plantada - na região Centro-Sul do Brasil.

 

É o que mostra o Censo Varietal Safra 2018/19, desenvolvido pelo Programa Cana do IAC e apresentado durante a última reunião de 2018 do Grupo Fitotécnico, realizada no final de novembro em Ribeirão Preto, SP. O pesquisador Rubens Leite do Canto Braga Jr., coordenador do projeto, salientou que o censo do IAC tem o objetivo de levantar informações sobre as áreas de variedades no maior número possível de unidades produtoras, englobando usinas, destilarias, associações e grandes fornecedores.

 

De acordo com Braga, o Censo Varietal do IAC é o maior do Brasil. Este ano, foram levantados dados de 216 empresas produtoras em uma área de 5.957.393 hectares nos estados da Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, São Paulo e Tocantins.

 

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O Censo apontou que a variedade RB867515 segue como a mais cultivada no Centro-sul, com 23% de área. Em seguida, está a RB966928, com 13%. Na terceira colocação, se encontra a CTC4, com 8% de área. No levantamento de área plantada, a RB867515 também segue na frente, com 18,3%. A RB966928 (14,8%) e a CTC4 (14,3%) aparecem logo atrás.

 

O Estado de São Paulo é o que mais rapidamente vem deixando de lado a 7515 e já opta por materiais mais novos, produtivos e com melhor resposta ao processo de mecanização. A variedade da Ridesa ainda segue na frente, tomando para si a maior parte da área cultivada (17%). Entretanto, a RB966928 aparece logo atrás, com 16% de participação. Essas posições devem se inverter já no próximo ano, já que no levantamento de área plantada, a RB867515 é apenas a terceira colocada, com 10,7% de área. Nas duas primeiras colocações, aparecem a 6928 com 18,5% e a CTC4 com 14,3%.

 

Na contramão de São Paulo, existem estados em que a RB867515 aparece, não apenas na liderança, mas com números exorbitantes. É o caso do Espirito Santo, onde ela ocupa 68% da área cultivada. A segunda colocada nesse ranking é a RB92579, com apenas 4% de participação. Esse cenário não deve se reverter tão cedo. A área plantada com o material no estado é de 65,3%, contra 11% da segunda colocada (RB937570). Mato Grosso (47%), Paraná (45%), Mato Grosso do Sul (33%), Goiás (23%) e Minas Gerais (20%) são outros estados onde a RB867515 ocupa a maior parte das áreas de cultivos de cana-de-açúcar.

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Confira o Censo Varietal do IAC POR ESTADO

INTENÇÃO DE PLANTIO

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Paralelo ao Censo Varietal, o IAC conduziu uma pesquisa de intenção de plantio para o próximo ciclo. Ao todo, foram 165 unidades recenseadas, totalizando quase 791 mil hectares levantados. O cenário previsto não deve se distanciar do registrado nas últimas safras. A RB867515 deverá ser a mais plantada no Centro-Sul, com 15,2% de intenção de plantio. Em seguida, aparecem a CTC4 (13,2%), RB966928 (12,7%), CTC9001 (9,9%) e RB92579 (5,2%).

 

A única exceção a esses números é, novamente, o Estado de São Paulo. À frente, aparece a RB966928, com 13,7%. CTC 4 (12,7%) e CTC 9001 (10,5%) completam o “top 3”. Líder absoluta nos outros estados, a 7515 conquista apenas a quarta colocação, com 9,8% de intenção de plantio para o próximo ano.

 

O consultor do IAC observa que, gradativamente, as variedades que estão ganhando espaço nos censos varietais são novas, desenvolvidas pensando no manejo mecanizado e que perfilham mais do que a 7515. Exemplos disso são as RB966928, RB92579, CTC4 e a IAC91-1099. “Não podemos negar que esse material deu uma contribuição fantástica para o setor. Mas, é importante lembrar que ele foi criado para outro tipo de manejo, não favorecendo a mecanização.”

 

Braga Jr. ressalta que a introdução de variedades modernas deve ser o caminho adotado pelos produtores e as usinas, pois os programas de melhoramento nunca irão lançar um material que seja inferior aos anteriores. “Por medo de arriscar, os produtores e usinas permanecem sempre nas mesmas variedades, mas a segurança vai contra a chance de obter resultados melhores. Se não arriscar, as médias de produtividade continuarão sempre as mesmas, o que ocasionará uma quebra geral em todo o setor.”

INTENÇÃO DE PLANTIO POR ESTADO

Empresas não devem ter mais do que 15% de uma mesma variedade em seu plantel varietal

A preocupação de usinas, destilarias, associações e fornecedores não deve ser apenas com o índice de atualização varietal. Mas também com o índice de concentração varietal. A história ensina que não é correto ter alta concentração de uma mesma variedade no plantel.

 

Ao longo das últimas quatro décadas, todos os materiais com alta participação nos canaviais tiveram que ser erradicados por causa de doenças. É o caso da NA5679 (carvão), SP70-1143 (ferrugem marrom), SP71-6163 (amarelinho) e RB72454 e SP81-3250 (ferrugem alaranjada). 

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Rubens Braga Jr., coordenador do Censo Varietal do IAC

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Valdecir Florentino Bueno, supervisor de produção agrícola

Para o pesquisador Rubens Braga Jr., 15% é o valor máximo de concentração de uma mesma variedade no plantel de cada empresa. Pois, caso haja algum problema, será possível eliminar 100% desse material em apenas uma safra. 15% também é a taxa de renovação média do setor.

 

“Doenças novas aparecem constantemente. Imagine agora os prejuízos que você terá se for obrigado a substituir sua principal variedade, que ainda teria elevados índices de concentração em seu plantel?”, questiona. Segundo ele, a enorme gama de variedades presentes no setor não justifica esse risco.

 

A Usina Santa Maria, pertencente ao Grupo J Pilon e localizada no município paulista de Cerquilho, segue à risca essa recomendação. São mais de 60 variedades presentes no plantel da unidade. Detalhe. Os materiais são, em sua maioria, modernos. Um dos principais é o CTC9001, que vem produzindo mais de 150 TCH.

 

O supervisor de produção agrícola da empresa, Valdecir Florentino Bueno, conta que essas características foram as responsáveis por alavancar a produtividade dos canaviais, que nas últimas safras vem atingindo valores acima dos três dígitos. “Sempre fomos abertos a novas variedades. Para isso, tentamos manter uma excelente relação com todos os institutos de melhoramento genético.” Em 2019, a Santa Maria deve reformar 15% de sua área, totalizando 13 mil hectares de cana-de-açúcar. 60% do plantio deve ser mecanizado.

MPB revoluciona plantio e reintroduz sistemas como a Meiosi e Cantosi

A introdução das Mudas Pré-Brotadas (MPBs) de cana-de-açúcar chegaram ao mercado nacional há seis anos, trazendo um choque cultural há tempos necessário para a cultura, que plantava cana da mesma forma há mais de 500 anos, desde que Martim Afonso de Souza, donatário das capitanias de São Vicente e Rio de Janeiro, trouxe as primeiras mudas para o Brasil.

 

A tecnologia restaura os benefícios da formação de mudas em viveiros, contribuindo para reduzir as ocorrências de pragas e doenças na implantação do canavial pelo uso de mudas sadias. Além disso, o sistema possibilita introduzir novas variedades mais rapidamente, reduzir custos de produção e replantar falhas com muito mais eficiência.

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Outro grande benefício proporcionado pela MPB foi a reintrodução de dois sistemas de plantio há muito tempo esquecidos: a Cantosi e a Meiosi. Embora a primeira também possua suas vantagens, a segunda é certamente a mais difundida atualmente no segmento, por conta de seu melhor custo-benefício.

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Na Meiosi, planta-se uma ou duas linhas de cana-de-açúcar (geralmente com MPBs) numa área de reforma e deixa-se um vão entre as linhas, que será plantado com alguma cultura de interesse econômico (soja ou amendoim) e/ou agronômico (crotalária). Após a colheita dessa lavoura, as linhas de cana serão cortadas e desdobradas nessa área adjacente. A taxa de multiplicação dependerá do tratamento dado as linhas.

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Já a Cantosi é o modelo que mais se aproxima de um viveiro tradicional. Se dentro do planejamento do produtor haverá “x” hectares de canaviais a serem reformados, ele deixará um “canto” desse talhão para formar seu viveiro com MPBs. Daí o nome Cantosi. A principal diferença com a Meiosi é que a área de reforma que receberá a desdobra pode ou não estar próxima da Cantosi.

Para o sucesso de qualquer um dos dois sistemas, é vital o uso de mudas sadias e com rastreabilidade garantida. Uma das empresas comprometidas em entregar mudas pré-brotadas de alta sanidade é a BASF, detentora da tecnologia AgMusa. “Muitos pensam que é fácil produzir uma MPB. Basta ir no canavial, extrair a gema e terá uma muda pronta. Mas o que difere a AgMusa de um MPB caseiro é todo o seu processo de rastreabilidade e análise de DNA”, ressalta o engenheiro agrônomo de desenvolvimento de mercado da BASF, Daniel Medeiros.

 

Ele explica que as mudas AgMusa passam por um longo processo de produção antes de chegar às prateleiras. “Tomamos todo um cuidado desde a origem. Pegamos uma gema e fazemos uma multiplicação em laboratório para alcançar um altíssimo grau de limpeza da cana. O processo é chamado de produção de mudas por meristema.”

 

É apenas dessa forma que o produtor obterá uma muda livre de doenças sistêmicas, como escaldadura e raquitismo “Fora isso, a única forma de se livrar dessas enfermidades é através do tratamento térmico. Entretanto, se eu tenho um nível elevado de raquitismo, por exemplo, terei que fazer até três ciclos de tratamento térmico para reduzir a infestação e, mesmo assim, não chegarei a zerar a doença na planta.”

COFCO International aposta em variedades modernas, adaptadas à mecanização e com alto número de perfilhos

O plantio de 2019 será bastante desafiador. É o que aposta a gerente de planejamento e desenvolvimento agrícola na COFCO International, Patrícia Fontoura. Serão quase 40 mil hectares a serem plantados nas unidades do Grupo, divididos entre reforma e expansão. “Já estamos com todos os viveiros prontos e a ideia é multiplicar o máximo de materiais novos. A introdução já foi feita há três anos. Agora é a hora de realmente entrar com um manejo mais moderno.”

 

As características varietais buscadas pela COFCO incluem adaptabilidade à mecanização – seja plantio ou colheita –, alto número de perfilhos por metro e boa brotação de soqueira. “Acreditamos muito em materiais modernos. Temos ainda algumas variedades antigas em nosso plantel, mas há um claro declínio, pois, colhemos mais produtividade nesses materiais novos, por terem um perfil mais adaptado à seca e à colheitabilidade.”

 

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Atualmente, o carro chefe da empresa são as variedades CTC4 e RB966928. Porém, há um bom número de CTC9001, CTC 9002, CTC9003, CV 7870, IACSP95-5094 e RB975201. A expectativa é que 50% do plantio seja feito de forma convencional, enquanto no restante da área será adotada a Cantosi.

Patrícia Fontoura, gerente de planejamento e des. agrícola

Na Raízen, a aposta é utilizar variedades contemporâneas para ganhos em TAH

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A Raízen, detentora de 26 unidades produtoras, tem a modernização e o investimento em novas soluções como uma de suas principais diretrizes. Por conta disso, a companhia vem trabalhando para utilizar variedades mais contemporâneas, que, consequentemente, entreguem maior produtividade em TAH (tonelada de açúcar por hectare). Atualmente, as cinco variedades mais cultivadas em área no Grupo são RB966928, RB867515, RB855156, RB92579 e CTC4. Para o próximo ano, os materiais mais plantados serão: RB966928, CTC9001, CV7870, CV6654, RB975201 e CTC4.

 

Embora procure sempre apostar em novas variedades, o head do Centro de Referência Raízen, Rodrigo Amoroso, explica que, para conseguir uma maior eficiência, é necessário que o plantio siga dois grandes pontos: (i) escolher a melhor variedade para um determinado ambiente e manejo de colheita e (ii) ter disponibilidade de muda para realizar o plantio. “Em alguns casos, mesmo optando por uma variedade mais nova, é comum utilizar um planta mais antiga para suprir a falta de mudas. Esse é um dos pontos, por exemplo, que a fusão da Meiosi com MPB tem contribuído muito.”

 

Em 2019, a Raízen deverá plantar de 15 a 20% da área no sistema de Meiosi. Lembrando que 100% do plantio no Grupo é feito de forma mecanizada.

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Especial CanaOnline Plantio 2019 - Texto: Leonardo Ruiz - Todos os direitos reservados - © 11/2018

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