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Especialistas internacionais se surpreendem com a produção sustentável  desenvolvida por produtores de cana brasileiros e por não ter remuneração diferenciada

Luciana Paiva e Renata Massafera
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Socicana conta com 90 fundos agrícolas certificados, 3 produtores certificados Bonsucro, 17 produtores certificados RSB e trabalha com mais 120 produtores visando à certificação

Positivamente surpresos. Assim ficaram os representantes da World Wildlife Fund, WWF United States (WWF-US), WWF-Brasil, da Bioplastic Feedstock Alliance, Procter&Gamble, The Lego Group, Unilever e da Roundtable on Sustainable Biomaterials (RSB), ao visitarem, no final do último mês de setembro, produtores de cana no interior paulista.

A visita teve o propósito de conhecer mais afundo os temas ligados à produção de cana-de-açúcar e o contexto socioambiental brasileiro, como a proteção de habitats naturais, questões sociais, implementação do código florestal e aspectos relacionados à sustentabilidade da produção.

A Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba (Socicana) fez parte do roteiro dos viajantes. A escolha da visita à Socicana não foi a esmo, mas se deveu ao intenso trabalho que a entidade desenvolve para a sustentabilidade de seus 1.389 associados, que anualmente produzem cerca de 6,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.

Atualmente, a Socicana mantém três projetos dedicados à sustentabilidade:

Já 31 produtores associados à Socicana conquistaram certificações de duas chancelas internacionais

Certificação RSB: uma organização internacional, independente, formada por diversas partes interessadas, que atua no desenvolvimento de uma nova bioeconomia. Ela oferece ferramentas e soluções para que produtores e indústrias possam contribuir para o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. O padrão de certificação da RSB é considerado como um dos padrões de maior credibilidade mundial, podendo ser aplicado para qualquer tipo de biomassa, incluindo a cana-de-açúcar. O sistema voluntário de certificação da RSB possui reconhecimento da Diretiva Europeia (EU RED) para biocombustíveis renováveis. Em adição ao padrão RSB que certifica produtores e indústrias de qualquer porte, a RSB desenvolveu um conjunto de normas específicas para permitir a inclusão de grupos de pequenos produtores na certificação. Tais normas foram utilizadas em um projeto piloto desenvolvido em parceria com a Socicana e com apoio do programa Boeing Corporate Citizenship.  O projeto contou com a participação de um grupo de 17 produtores, que alcançou a certificação em 2016.  Os produtores e a Socicana encontram nos padrões da RSB uma estrutura abrangente para alcançar seus objetivos de sustentabilidade e as demandas de mercado, como também para implementar melhorias em sua gestão e práticas agrícolas. 

TOP Cana: programa criado pela Socicana e Fundação Solidaridad, com a parceria da Usina Santa Adélia e do grupo Raízen. Em seu escopo de atuação, a Socicana dedica-se à representatividade da classe produtora em relação à sociedade, governos e mercado. Apesar de focar à produção, o programa ultrapassa este conceito, apresentando soluções para melhorias na gestão. O produtor conta com consultoria técnica gratuita, realização de diagnóstico, plano de ação corretivo e serviços gratuitos em todas as etapas das culturas. O TOP Cana não só atua na implementação de novas iniciativas, mas também identifica práticas que já estão de acordo com conceitos de sustentabilidade para sua padronização e documentação.

Certificação da Bonsucro: sua auditoria avalia os principais indicadores de produção, inclusive consumo de energia, água e emissão de gases de efeito estufa. A conformidade regulatória, direitos trabalhistas, suprimento local e contínuo de água e outros fatores humanos que afetam o impacto da produção sobre a população local também são aferidos. Até esta iniciativa pioneira, não havia protocolo específico para produtores de cana e certificava somente a usina. Portanto, o trabalho dos produtores brasileiros e o reconhecimento dos produtores da Socicana abre um novo cenário de oportunidades no mundo. Prova da relevância desta conquista, hoje a Socicana é referência em sustentabilidade neste setor. Ter o processo produtivo avaliado pela Bonsucro também significa respeitar a legislação da União Europeia (UE) sobre biocombustíveis importados no âmbito da Diretiva sobre Energia Renovável, abrindo possibilidades de mercado para exportadores de etanol proveniente da cana-de-açúcar.  

Conferindo a sustentabilidade na prática
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Bracialli com a família: produção agrícola como parte do DNA

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Erin Simon, diretora de Pesquisa em Sustentabilidade da WWF, e o produtor Paulo Rodrigues: processos brasileiros superam expectativas

Após visita à sede da Socicana em Guariba, onde foram recebidos pelo presidente Bruno Rangel Geraldo Martins e pelo superintendente Rafael Bordonal Kalaki, os integrantes da comitiva seguiram para a vizinha cidade de Taquaritinga para conhecer a propriedade de José Luís Bracciali, categorizada como de pequeno porte.

 

O produtor contou um pouco da história de sua família e mostrou as lavouras de goiaba, limão e cana-de-açúcar. Bracciali, que recebe o acompanhamento do programa TOP Cana, apresentou as adequações de sua propriedade para atender à legislação e às exigências para a conquista da certificação RSB, entre as quais refeitório e local correto para armazenamento de embalagens de defensivos agrícolas.

A segunda fazenda visitada foi a de Paula Bellodi Santana, categorizada como de médio porte. Paula também relatou a história de sua família e levou os visitantes para conhecerem sua produção de macadâmia, uma das lavouras cultivadas na fazenda, que também produz cana-de-açúcar. A produtora discorreu sobre as mudanças que implementou a partir das orientações do programa TOP Cana e salientou que os projetos de sustentabilidade em sua propriedade continuam evoluindo, principalmente as ações voltadas para a preservação ambiental, uma vez que o objetivo da produtora é aumentar a disponibilidade de água.

A visita foi encerrada na fazenda Santa Isabel, em Guariba, onde o produtor Paulo Rodrigues apresentou detalhadamente as atividades do condomínio agrícola. Paulo discorreu as ações sustentáveis que levaram à conquista da certificação Bonsucro. Para complementar, os visitantes conferiram a área de produção de Mudas Pré-Brotadas (MPB) desenvolvida na Santa Isabel e se encantaram com a tecnologia.

 

Com as explicações e conferindo o resultado na prática, os visitantes entenderam porque o programa TOP Cana é inovador e revolucionário, ajudando os produtores na obtenção de certificação, além da adequação das propriedades e processos para a produção sustentável.

Em Bariri, visita aos primeiros canaviais certificados do mundo
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Assobari possui certificações Bonsucro e RSB

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Integração cana e pecuária na fazenda de Acácio Masson

Além da região de Guariba, a comitiva internacional visitou a de Bariri, também no interior paulista, onde se encontra a sede da Associação dos Fornecedores de Cana da Região de Bariri (Assobari),  a primeira associação que se atentou sobre a importância da certificação, ainda em 2008, ano em que se falava muito sobre a comercialização de créditos de carbono. De olho nesse mercado, a Entidade começou a buscar mais informações sobre o assunto e descobriu que essas negociações apenas seriam possíveis caso a matéria-prima estivesse certificada.

A certificação final veio apenas oito anos depois, em janeiro de 2016, após um longo processo de adequações das propriedades associadas. Naquele mês, 68 produtores foram certificados, grupo formado exclusivamente por pequenos e médios agricultores, que passaram a ser gestores de suas fazendas, operando-as com maior eficiência, desde o controle de estoque e melhoria das práticas agrícolas até a adequação às leis trabalhistas.

Em Bariri, a comitiva internacional foi recepcionada por Acácio Masson Filho, diretor de sustentabilidade da Assobari que apresentou todos os passos burocráticos cumpridos para a obtenção das certificações – Bonsucro e RSB. Depois levou os visitantes até sua fazenda para conferirem o resultado da teoria aplicada. Na propriedade de Masson, a cana divide espaço com a pecuária, diversificar a produção é um dos pilares do desenvolvimento sustentável.

“Foi muito importante a visita desses representantes de organismos internacionais, pois apenas conferindo in loco o nosso trabalho, podem conhecer os nossos diferenciais e, assim, valorizarem a nossa produção”, observou Masson Filho.

Realidade superou as expectativas

O grupo declarou que a expectativa vai superada. “Eu não imaginava que a preocupação com a sustentabilidade na produção agrícola brasileira fosse tão grande. A experiência que tivemos foi muito boa e superou minha expectativa. Foi uma visita muito produtiva”, avaliou a gerente da The Lego Group, Maria Peterson, uma das integrantes da Bioplastic Feedstock Alliance (BFA) que atua como um fórum pré-competitivo e multilateral focado em aumentar a conscientização sobre o desempenho ambiental e social de fontes potenciais de matérias-primas para plásticos de base biológica. Os membros do BFA são: The Coca-Cola Company, Danone, Ford Motor Company, Nestlé, P & G, Unilever, The Lego Group, McDonald's Corporation e Target Corporation. 

Annie Weisbrod, cientista de sustentabilidade da Procter&Gamble (P&G) declarou que a visita foi muito produtiva. Ela fez inúmeros questionamentos em todas as propriedades visitadas e disse que saiu satisfeita com o que viu. “Estou impressionada. Realmente o trabalho destes produtores me surpreendeu”, disse. Erin Simon, diretora de Pesquisa em Sustentabilidade da WWF, salientou não só o trabalho dos produtores, mas também a hospitalidade e boa vontade em explicar os detalhes dos processos que foram implementados e levaram à certificação. “Gostei muito da visita. Foi interessante e nos trouxe muito conhecimento”, resumiu Erin.

Laís Cunha, da WWF Brasil, chegou a ficar emocionada. A engenheira florestal não esperava ter a experiência que teve, com produtores preocupados não só com a subsistência econômica de suas propriedades, mas com a perpetuidade de suas terras. “Estou mesmo emocionada”, disse, após ouvir os projetos da produtora Paula Bellodi Santana, que, debaixo de um pé de macadâmia, contou para o grupo seus objetivos, que incluem um reflorestamento com um espaço destinado a um bem tão precioso: a água.

Celso Albano, gestor Executivo da Orplana - Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil, que acompanhou toda a visita, lembrou que o conceito de sustentabilidade é levado a sério pelos produtores regionais. “A vida da fazenda é mais longa do que a vida do fazendeiro”, pontuou em uma frase que vai ao encontro do que os produtores estão buscando, com atuação para garantir a longevidade do patrimônio de várias gerações.

Bruno Rangel, presidente da Socicana e tesoureiro da Orplana, reiterou que a Organização e a Associação não medem esforços para viabilizar certificações aos seus associados. “Foi um prazer poder mostrar ao grupo um trabalho que estamos desenvolvendo há bastante tempo e que tem obtido resultados satisfatórios. Nossos produtores se preocupam não só com a produção de qualidade, mas também com o atendimento à legislação e critérios de responsabilidade socioambiental. Daí, a importância do reconhecimento internacional”, comentou Bruno.

Áurea Nardini, gerente de Certificação da RSB, afirmou que a visita foi uma ótima oportunidade para dar visibilidade aos produtores e desmitificar a produção de cana-de-açúcar, mostrando que os produtores estão engajados com a produção sustentável. “A Socicana passou bem esse recado”, pontuou Áurea.

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Cana certificada precisa ser melhor remunerada
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Produção brasileira reconhecida internacionalmente: pontos para o País no mercado mundial

“Durante as visitas conferimos que os investimentos em sustentabilidade são maiores do que imaginávamos. Observei, no entanto, que os produtores precisam de incentivo para continuar investindo nesta área”, salientou Maria Peterson, gerente da The Lego Group. Essa observação feita por Maria, a inexistência de melhor remuneração pela cana certificada, incomoda os produtores certificados e é um entrave à maior adoção do sistema.

Os produtores de cana defendem o pagamento diferenciado pela cana certificada, como acontece com a soja –  uma tonelada de soja certificada é equivalente a um crédito de produção de soja responsável, podendo ser trocado através da Plataforma de Comercialização de Créditos da RTRS. Ao adquirir os créditos do produtor, empresas ou organizações podem declarar seu apoio à produção responsável. Nos últimos anos, cada crédito valia para o produtor rural cerca de US$ 4.

O produtor Roberto Cestari, que possui canaviais com as certificações Bonsucro e RSB, ressaltou que, atualmente, as certificações apresentam ganhos indiretos, uma vez que para conquista-las, os produtores necessitam cumprir as legislações ambiental e trabalhista, realizar boas práticas agrícolas e priorizar a adoção de tecnologia inovadoras, ações que levam a obtenção de canaviais com alta eficiência. “Conquistar alta produtividade por mais cortes, é nosso objetivo, e o canavial certificado facilita esse processo. Esse é o ganho que obtemos com as certificações, mas precisamos de um ganho real, uma remuneração diferenciada, como acontece com a soja. Se conquistarmos isso, muitos outros produtores irão aderir ao processo.”

Acácio Masson Filho conta que logo que os canaviais dos associados da Assobari foram certificados, a Della Colleta Bioernergia passou a pagar um prêmio de 3% por essa cana certificada, mas com a crise do setor, esse valor a mais foi retirado. A Assobari se empenha para a melhor remuneração dos canaviais certificados e busca alternativas para que a prática seja mais atraente. “Acreditamos que a curtíssimo prazo, toda a cana precisará ser certificada. É a exigência do mercado. Então, os produtores deverão certificar o canavial, por outro lado, as usinas também necessitarão que a cana seja certificada, para isso precisam estimular os produtores a investirem e não desistirem da cana-de-açúcar, seguindo para culturas que são mais valorizadas”, alertou Masson Filho.

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